O QUE É
A DOENÇA
A doença de Parkinson é
uma afecção do sistema nervoso central que acomete principalmente o sistema
motor. É uma das condições neurológicas mais freqüentes e sua causa permanece
desconhecida. As estatísticas disponíveis revelam que a prevalência da doença
de Parkinson na população é de 150
a 200 casos por 100.000 habitantes e a cada ano surgem
20 novos casos por 100.000 habitantes. Os sintomas motores mais comuns são:
tremor, rigidez muscular, acinesia e alterações posturais. Entretanto,
manifestações não motoras também podem ocorrer, tais como: comprometimento da
memória, depressão, alterações do sono e distúrbios do sistema nervoso
autônomo.
A doença de Parkinson é uma condição crônica. A evolução dos sintomas é
usualmente lenta mas é variável em cada caso. A doença de Parkinson é a forma
mais freqüente de parkinsonismo. O termo parkinsonismo refere-se a um grupo de
doenças que podem ter várias causas e que apresentam em comum os sintomas
descritos acima em combinações variáveis, associados ou não a outras
manifestações neurológicas. A doença de Parkinson é também chamada de
parkinsonismo primário porque é uma doença para a qual nenhuma causa conhecida
foi identificada. Por outro lado, diz-se que um parkinsonismo é secundário
naqueles casos em que uma causa pode ser identificada. Cerca de 75% de todas as
formas de parkinsonismo correspondem à forma primária.
SINTOMAS
INICIAS
Os primeiros
sintomas da doença de Parkinson têm início de modo quase imperceptível o que
faz com que o próprio paciente não consiga identificar o início preciso das
primeiras manifestações. Muitas vezes, amigos ou familiares são os primeiros a
notar as primeiras mudanças. O primeiro sinal pode ser um ou mais dos
seguintes:
·
sensação de cansaço
ou mal-estar no fim do dia
·
caligrafia menos
legível ou com tamanho diminuído
·
fala monótona e
menos articulada
·
depressão ou
isolamento sem motivo aparente
·
lapsos de
memória, dificuldade de concentração e irritabilidade
·
dores
musculares, principalmente na região lombar
·
um dos braços ou
uma perna movimenta-se menos do que a do outro lado
·
a expressão
facial perde a espontaneidade
·
diminuição da
freqüência dos pisos movimentos tornam-se mais vagarosos, a pessoa permanece
por mais tempo em uma mesma posiçãocamentos
MANIFESTAÇÕES
CLÍNICAS: SINTOMAS MOTORES
TREMOR
É o sintoma mais freqüente e o que mais chama a atenção
embora não seja o mais incapacitante. Para a maioria dos pacientes, o tremor é
o principal motivo que os leva a procurar, pela primeira vez, ajuda médica. O
tremor apresenta-se de forma característica: é rítmico, relativamente lento
quando comparado com outros tipos de tremor (4 a 7 ciclos por segundo) e
ocorre principalmente quando o membro está em repouso. Quando o
paciente movimenta um membro, o tremor ali presente cessa de imediato para
retornar logo após o fim do movimento. No início da doença, o tremor ocorre em
um lado e assim permanece por períodos variáveis de tempo. Após algum tempo, o
outro lado também é acometido podendo aparecer na cabeça, mandíbula, lábio,
queixo e nos membros inferiores. Situações de estresse emocional ou a sensação
de ser observado aumentam visivelmente a intensidade do tremor. Por outro lado,
durante estado de relaxamento ou durante o sono, o tremor desaparece por
completo.
RIGIDEZ
A rigidez muscular decorre do aumento da resistência que os
músculos oferecem quando um segmento do corpo é deslocado passivamente. Em
outras palavras: para cada grupo de músculos existem outros que possuem
atividade oposta, chamados músculos antagonistas. Dessa forma, quando um
músculo é ativado para realizar determinado movimento, em condições normais seu
antagonista é inibido para facilitar esse movimento. Na doença de Parkinson,
essa inibição não é feita de modo eficaz pois alguns comandos originados do
cérebro chegam aos músculos de modo alterado. Como conseqüência, os músculos
tornam-se mais tensos e contraídos e o paciente sente-se rígido e com pouca
mobilidade. Quando determinado membro é deslocado passivamente pelo examinador,
pode-se sentir, superpostos à rigidez, curtos períodos de liberação rítmicos e
intermitentes, fenômeno que recebe o nome de sinal da roda denteada.
ACINESIA E
BRADICINESIA
O termo acinesia refere-se à redução da quantidade de
movimento enquanto que bradicinesia significa lentidão na execução do
movimento. O paciente apresenta redução da movimentação espontânea em todas as
esferas. A mímica facial torna-se menos expressiva, transmitindo com menor
intensidade sentimentos e emoções que, por sua vez, mantém-se preservados. A
caligrafia torna-se menos legível e de tamanho reduzido, fenômeno conhecido por
micrografia. As atividades diárias, antes realizadas com rapidez e desembaraço,
são agora realizadas com vagar e à custa de muito esforço. O paciente anda com
passos mais lentos e pode apresentar alguma dificuldade para equilibrar-se. A
postura geral do paciente modifica-se: existe predominância dos músculos
flexores de modo que a cabeça permanece fletida sobre o tronco, este sobre o
abdômen e os membros superiores são mantidos ligeiramente à frente com os
antebraços fletidos na altura do cotovelo.
MANIFESTAÇÕES
CLÍNICAS: SINTOMAS NÃO MOTORES
Além dos sintomas motores, muitas outras manifestações
podem ocorrer e podem ser tratadas com medicação apropriada. A intensidade
desses sintomas é variável em cada caso e podem ou não aparecer em determinado
paciente. Entretanto, em alguns casos, constituem motivo de grande desconforto
e não devem ser deixados de lado pois sua resolução muitas vezes é possível com
medidas médicas adequadas. Alguns desses sintomas serão descritos a seguir.
DEPRESSÃO
Sintomas depressivos ocorrem em 40-50% dos pacientes
parkinsonianos. Embora considerada como reativa a uma condição que limita a
atividade normal, pacientes com doença de Parkinson costumam ter depressão mais
freqüentemente se comparados a pacientes portadores de outras doenças ainda
mais incapacitantes. Além disso, em número considerável de casos, a depressão
inicia-se antes mesmo do aparecimento dos sintomas clássicos, em um momento em
que não há qualquer evidência de incapacidade.
Em alguns pacientes, a depressão pode se acompanhar de
ansiedade e, mais raramente, de episódios de agitação. A intensidade dos
sintomas depressivos pode variar desde quadros leves até aqueles mais graves em
que a depressão torna-se o sintoma mais importante e um dos fatores
determinantes de incapacidade. Nesses casos, o tratamento específico com
medicamentos antidepressivos é fundamental para o controle dos sintomas.
Alterações emocionais também são comuns. Pacientes podem
sentir-se inseguros e temerosos quando submetidos a alguma situação nova. Podem
evitar sair ou viajar e muitos tendem a retrair-se e evitar contatos sociais.
Alguns perdem a motivação e tornam-se excessivamente dependentes dos
familiares.
DISTÚRBIOS DO SONO
Constituem um dos problemas mais comuns. Compreendem uma
ampla gama de sintomas que incluem: dificuldade em conciliar o sono, freqüentes
despertares durante a noite, sonhos "reais" (em que o paciente tem
dificuldade em distinguir o sonho da realidade) e pesadelos. Uma das
observações mais comuns é a inversão do ciclo vigília-sono em que o paciente
"troca o dia pela noite". Esse fenômeno ocorre lentamente como
resultado de uma combinação de fatores (que incluem freqüentes cochilos durante
o dia e dificuldade progressiva para dormir à noite) que se auto-perpetuam e
culminam em importante inversão do ciclo. Outras vezes, ocorrem movimentos
bruscos (pequenos pulos ou movimentos rápidos com os membros) chamados
mioclonias que podem ser normais quando ocorrem raramente. Na doença de
Parkinson, essa mioclonias podem ser mais freqüentes e intensas e acordar o
cônjuge e mesmo o próprio paciente.
O tratamento dos vários distúrbios do sono vai depender de
uma série de fatores como idade, tipo específico de sintoma e o quadro clínico
do paciente. Medicamentos indutores do sono ou antidepressivos (lembre-se de
que a depressão é uma das causas de insônia) podem ser usados. A levodopa, ao
mesmo tempo em que pode melhorar a qualidade do sono, por proporcionar maior
mobilidade, pode ser um dos fatores na produção de mioclonias e sonhos
"reais".
DISTÚRBIOS COGNITIVOS
A maior parte dos pacientes com doença de Parkinson não
apresenta declínio intelectual. Isso significa que a capacidade de raciocínio,
percepção e julgamento encontram-se intactas. Entretanto, alguns pacientes
relatam dificuldades com a memória (geralmente na forma de "brancos"
momentâneos), cálculos e em atividades que requerem orientação espacial. Tais
alterações podem ocorrer em qualquer estágio da doença mas tendem a ser mais
intensas nas fases mais adiantadas e nos pacientes mais idosos. Por outro lado,
demência franca pode ocorrer em cerca de 20% dos pacientes mas, quando ocorre
no início da doença, deve-se levar em conta a possibilidade de outros
diagnósticos que não a doença de Parkinson.
Muitas vezes, a própria medicação antiparkinsoniana pode
contribuir para a produção de alterações mentais. Por exemplo, os
anticolinérgicos (grupo de drogas ainda largamente usado principalmente contra
o tremor) podem resultar em distúrbios de memória e, em casos mais graves,
confusão mental e alucinações. Esses sintomas ocorrem mais freqüentemente em
pacientes mais idosos que, em geral, não devem fazer uso desse tipo de
medicação. A própria levodopa, bem como os agonistas da dopamina e a amantadina
também podem, em alguns casos, desencadear reações semelhantes. Felizmente,
todos esses sintomas desaparecem quando o medicamente é suspenso ou as doses
são reduzidas.
DISTÚRBIOS DA FALA
A doença de Parkinson, em virtude da localização
predominantemente subcortical do processo degenerativo, não produz alterações
da linguagem no que diz respeito aos mecanismos de expressão e compreensão da
palavra falada e/ou escrita. Dessa forma, as afasias não fazem parte do rol de
sintomas que podem acometer o parkinsoniano. Além disso, alguns pacientes podem
não apresentar qualquer alteração da fala, seja em relação ao volume de emissão
da voz ou à entonação e melodia do fraseado.
Em outros, entretanto, a fala pode estar afetada de modo
característico. Tais alterações podem ocorrer no início da doença mas raramente
constituem o primeiro sintoma. A primeira manifestação é percebida geralmente
por amigos ou familiares que referem dificuldade na compreensão da palavra
falada, principalmente ao telefone. A voz torna-se mais fraca, o volume de voz
diminui e pode haver certa rouquidão.
Dificuldade
na articulação constitui sintoma freqüente em todas as fases da doença, mas
pode ser bastante incapacitante nas fases mais avançadas, ou naqueles pacientes
nos quais a voz é mais exigida como professores e atores, por exemplo.
Outra
característica marcante é o que se denomina fala monótona: as frases são
emitidas de modo constante, pausado, com a perda da entonação e cadência
naturais que conferem à fala sua musicalidade e capacidade de expressão
emocional.
Alguns pacientes tendem a acelerar o ritmo da fala de modo a encurtar o
tempo de emissão de uma frase, embaralhando as palavras e dificultando sua
compreensão. A essa alteração do ritmo pode-se associar a palilalia, que
consiste na repetição de uma sílaba ou palavra uma ou várias vezes, no meio ou
no fim de uma frase. Outros pacientes, por sua vez, apresentam significativa
redução da velocidade da fala.
Embora a medicação antiparkinsoniana possa reverter algumas
dessas dificuldades, a terapia de voz resulta em evidente benefício e deve ser
estimulada.
SIALORRÉIA
Ao contrário do que antes se imaginava, o acúmulo de saliva
na boca não decorre de aumento de produção de saliva (embora em alguns
pacientes isso possa ocorrer) mas de maior dificuldade em degluti-la. Em
condições normais, engole-se saliva automaticamente à medida que vai sendo
produzida. Na doença de Parkinson, esse comportamento motor automático (assim
como vários outros) deixa de ser realizado, o que leva a acúmulo de saliva, que
pode escorrer pelo canto da boca. Medicações anticolinérgicas (que inibem a
acetilcolina) costumam
ser benéficas nesses
casos.
DISTÚRBIOS
RESPIRATÓRIOS
Dificuldade para respirar ou falta de ar após pequenos
esforços podem ser sinais de comprometimento cardíaco ou pulmonar. Entretanto,
esses mesmos sintomas podem ocorrer como resultado de rigidez e/ou acinesia dos
músculos da parede torácica que dificultam a expansão dos pulmões. Nesses
casos, um ajuste da medicação antiparkinsoniana deve melhorar o problema.
Por outro lado, a própria levodopa pode causar movimentos
anormais nos músculos respiratórios e causar desconforto semelhante, geralmente
acompanhado de ruídos respiratórios. Esses sintomas são controlados com
pequenas reduções nas doses de levodopa.
DIFICULDADES URINÁRIAS
Podem ocorrer disfunções urinárias como resultado da
própria doença ou pela ação de alguns medicamentos. A parede da bexiga pode
tornar-se rígida e sua contrações são mais lentas. Medicamentos
anticolinérgicos podem precipitar dificuldades urinárias ou agravar disfunções
preexistentes.
Podem aparecer de várias formas: urgência urinária
(necessidade imperiosa de urinar, muitas vezes sem tempo de chegar ao
banheiro), freqüência aumentada de micções, esvaziamento incompleto da bexiga
ou dificuldade em iniciar a micção. Patologias locais próprias de idade mais
avançada, tais como, aumento da próstata no sexo masculino e flacidez dos
músculos pélvicos no sexo feminino, podem contribuir para agravar esses
sintomas.
TONTURA E QUEDA DE
PRESSÃO ARTERIAL
Sensação de cabeça vazia ou de tonturas vagas, geralmente
associada a escurecimento visual quando o paciente se levanta podem ser sinais
de queda de pressão arterial dependente da postura (a que se dá o nome de
hipotensão ortostática ou hipotensão postural). Existem várias causas para o
seu aparecimento e as principais são:
·
efeito de
medicamentos (levodopa, agonistas da dopamina, alguns antidepressivos,
tranqüilizantes, antihipertensivos, diuréticos
·
desidratação
(principalmente em pacientes mais idosos), diabetes e estados de desnutrição
·
doença cardíaca
associada
- ação da própria doença de Parkinson
O
tratamento da hipotensão postural vai depender da(s) causa(s) específica(s) que
for(em) diagnosticada(s). Se houver suspeita de que algum determinado
medicamento possa ser a causa, sua dose deve ser reduzida ou o medicamento
suspenso. A suplementação de sal na dieta e o uso de medicamentos específicos
para evitar quedas importantes da pressão costumam dar bons resultados.
DORES E OUTRAS
SENSAÇÕES ANORMAIS
A doença de Parkinson é uma afecção essencialmente motora. Entretanto, é comum
o aparecimento de dores musculares em várias regiões do corpo. As áreas mais
afetadas são os ombros, braços, membros inferiores e região lombar. Muitas
vezes o sintoma que mais incomoda é uma sensação de fadiga muscular que piora
em determinadas posições. A explicação mais comum leva em conta a ação do
tremor e da rigidez que resultam em aumento da atividade muscular. Por outro
lado, essas sensações dolorosas podem ocorrer mesmo quando os sintomas motores
são mínimos - o que sugere a existência de outros mecanismos envolvidos. Em
alguns casos, sensações dolorosas podem se manifestar meses antes do
aparecimento dos primeiros sintomas.
Uma das formas mais conhecidas de sintomas dolorosos na doença de Parkinson são
as câimbras. Câimbras nos pés ocorrem geralmente pela manhã (câimbras matinais)
ou durante a noite - o que pode acordar o paciente. Câimbras nos pés podem
também aparecer durante o caminhar e dificultar a marcha pois os músculos da
panturrilha e dos pés entram em espasmo e curvam o pé em arco, com os artelhos em garra. Em alguns
pacientes, câimbras nos pés durante o caminhar podem constituir os primeiros
sintomas da doença. Mais raro é o aparecimento de câimbras em uma ou ambas as mãos,
principalmente durante a realização de movimentos finos.
Alguns pacientes relatam dores musculares na região do ombro e do pescoço, ou
mesmo dores de cabeça, relacionadas à rigidez da musculatura cervical. Mais
comum é a queixa de dor lombar em pacientes que apresentam alterações posturais
com flexão do tronco para a frente. São dores geralmente relacionadas à
posição, uma vez que melhoram quando o paciente procura assumir postura mais
ereta e tendem a piorar enquanto sentado.
Além das dores musculares, outras sensações desagradáveis podem ocorrer.
Sensações de frio em uma ou mais extremidades podem ser muito incômodas.
Acometem geralmente os pés ou as mãos mas podem ser internas - geralmente
associadas ao trato gastrintestinal. Mais comum é a sensação de calor ou
queimação em uma ou mais extremidades ou mesmo referidas como sendo no esôfago
ou estômago. As sensações térmicas anormais são variáveis em um mesmo paciente
e podem desaparecer por longos períodos de tempo. Geralmente são mais intensas
nos períodos em que os sintomas motores também estão piores.
Os mecanismos envolvidos na produção de dor e sensações térmicas anormais em
pacientes parkinsonianos não são totalmente conhecidos. De modo geral não há
necessidade de medicação analgésica. Quando relacionadas a flutuações motoras,
podem responder ao ajuste da medicação antiparkinsoniana. Dores musculares
relacionadas a alterações da postura melhoram com fisioterapia e reeducação
postural. Câimbras matinais nos pés podem ser controladas com o uso de levodopa
de liberação lenta ou com injeções locais de toxina botulínica.
TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
Embora,
até o presente, não exista cura para a doença de Parkinson, estão disponíveis
alguns medicamentos capazes de melhorar significativamente a maioria dos
sintomas. A escolha do medicamento vai depender das condições de cada paciente:
idade, sintomas predominantes e estágio da doença são alguns dos fatores que o
médico deve levar em conta na hora de planejar o tratamento. Os principais
medicamentos são os seguintes:
LEVODOPA
A levodopa é a droga mais eficaz para o alívio dos sintomas parkinsonianos, mas
nem sempre ela deve ser administrada no início da doença. Nessa fase, a maioria
dos especialistas prefere iniciar o tratamento com medicamentos menos potentes
e reservar a levodopa para as fases mais avançadas. A levodopa é um aminoácido
cujo nome químico é 3,4- dihidroxi-fenilalanina. É uma substância precursora da
dopamina, pois quando sofre a ação da enzima dopa-descarboxilase dá origem à
dopamina. Portanto, a administração de levodopa aumenta os níveis de dopamina
no cérebro.
A levodopa é rapidamente absorvida na porção proximal do intestino delgado.
Alguns fatores como a redução da motilidade do estômago e a ingestão de
alimentos ricos em proteínas, próxima do horário da tomada da medicação, podem
retardar ou mesmo reduzir a absorção da levodopa. Parte da levodopa é
metabolizada em dopamina antes de conseguir atingir o cérebro. A enzima
responsável por essa transformação é a dopa-descarboxilase. Por esse motivo, a
levodopa é sempre administrada em conjunto com uma substância que inibe a
dopa-descarboxilase. Os medicamentos à base de levodopa disponíveis no mercado
já vêm associados a um inibidor da dopa-descarboxilase. Existem dois inibidores
utilizados clinicamente: carbidopa e benserazida.
Em geral, após 20 a
30 minutos da tomada da medicação, o efeito antiparkinsoniano começa a
aparecer. Alguns fatores, como a dieta, podem retardar o início do efeito
terapêutico. A duração do efeito de cada dose também é variável e depende,
entre outros fatores, do estágio da doença. Nas fases iniciais, quando ainda
existem células cerebrais capazes de funcionar como "depósitos", e
armazenar a dopamina produzida pela levodopa, cada dose pode ser eficaz durante
mais de 6 horas de modo que duas a três tomadas por dia podem ser suficientes
para o controle dos sintomas.
Nos primeiros 4-5 anos de tratamento com levodopa, os sintomas podem ser bem
controlados com relativa facilidade. Após esse período, muitos pacientes começam
a experimentar complicações do tratamento. À medida que a doença progride, e
mais células cerebrais degeneram, o cérebro perde a capacidade de armazenamento
de dopamina e a duração do efeito torna-se progressivamente menor. Observa-se
então o fenômeno de "deterioração do fim da dose", em que os sintomas
voltam a aparecer antes da próxima tomada da medicação. Quando isso ocorre, o
médico geralmente reduz o intervalo entre as doses de modo a adequar o paciente
a essa nova situação. O tempo de benefício vai sendo encurtado progressivamente
ao longo do tempo, ocasião em que outras drogas devem ser utilizadas para
potencializar a ação da levodopa.
Outra complicação da levodopaterapia é representada pelo aparecimento de
discinesias, que são movimentos involuntários anormais de natureza contínua, em
forma de dança, que podem acometer os membros, tronco ou face e lembram os
movimentos da coréia.
Distúrbios psiquiátricos na forma de alucinações podem ocorrer, principalmente
quando doses mais altas são utilizadas. As alucinações são quase sempre
visuais, como por exemplo a percepção visual de pessoas estranhas, ou de
pessoas já falecidas dentro de casa. São também comuns os delírios, que são
idéias ou crenças falsas e sem qualquer embasamento lógico que são interpretadas
como verdadeiras.
Náuseas e vômitos podem ocorrer no início do tratamento. Podem ser evitados com
o uso de doses pequenas no início e com aumento gradual. Outras vezes, o uso de
um antiemético pode ser necessário.
AGONISTAS DA DOPAMINA
São substâncias que têm ação semelhante à dopamina. Diferem da levodopa por não
necessitarem de transformação enzimática para serem ativas. São medicações
bastante úteis tanto nas fases iniciais em monoterapia (tratamento com um só
medicamento), como também nas fases mais avançadas em associação com a
levodopa. O efeito farmacológico dos agonistas tem como base sua ação nos
chamados receptores da dopamina. Esses receptores, localizados nas células do
estriado, são diretamente influenciados pela dopamina que normalmente é
produzida na substância negra. Quando ativados por um agonista, esses
receptores respondem de maneira semelhante de modo que a função motora pode ser
restabelecida a partir desse modo alternativo de estimulação. Uma das grandes
vantagens dos agonistas é o maior tempo de duração do efeito de cada dose. Sua
utilização nas fases iniciais pode protejer o cérebro contra algumas
complicações tardias do tratamento com levodopa ou retardar seu aparecimento.
Os principais agonista utlilizados são o pramipexol, ropinirol, apomorfina e
rotigotina. A única substância disponível atualmente no Brasil é o pramipexol.
INIBIDORES DA MAO-B
A enzima monoamino-oxidase-B (MAO-B) ocorre principalmente no cérebro e age na
transformação da dopamina em seu metabólito, o ácido homovanílico. É portanto,
uma das enzimas responsáveis pela remoção natural da dopamina após ter sido
utilizada pelo seu receptor. Drogas inibidoras da MAO-B, como a selegilina,
atuam reduzindo a velocidade de remoção da dopamina, aumentando seu tempo de
vida útil e elevando os níveis de dopamina. O efeito sintomático obtido com a
selegilina é discreto mas muitas vezes suficiente para o controle dos sintomas
iniciais da doença. Quando administrado em conjunto com a levodopa, pode
potencializar sua eficácia, aumentando a duração do efeito antiparkinsoniano.
Deve ser administrada na primeira parte do dia em uma ou duas tomadas. Quando
administradas à noite, podem causar insônia.
Durante alguns anos, levou-se seriamente em consideração que a selegilina
poderia agir como agente neuroprotetor, prevenindo ou ao menos retardando a
progressão da doença. Essa idéia surgiu do conhecimento de que o metabolismo da
dopamina produzia radicais livres. Como conseqüência, a redução desse
metabolismo induzida pela selegilina poderia contribuir para menor produção
desses radicais livres. Entretanto, estudos detalhados envolvendo centenas de
pacientes durante quase uma década não conseguiram provar essa hipótese.
INIBIDORES DA COMT
Outra enzima importante no metabolismo da dopamina é a
catecol-O-metil-transferase (COMT). Ocorre tanto no cérebro quanto fora dele e
é responsável, junto com a MAO-B, pela remoção de dopamina. Entretanto, essa
enzima atua também sofre a levodopa, transformando-a em 3-O-metildopa, uma
substância sem efeito terapêutico. Dessa forma, parte da levodopa é perdida
pois somente a porção restante vai entrar no cérebro e ser transformada em dopamina. Medicamentos
que inibem a COMT, como a tolcapona e a entacapona são utilizados para aumentar
a eficácia da levodopa nas fases em que ocorrem oscilações importantes do
efeito terapêutico. Existem algumas diferenças entre as duas drogas
disponíveis. Enquanto que a tolcapona atua tanto fora como dentro do cérebro, a
entacapona atua apenas fora do cérebro. Tal diferença não implicaria, por si
só, na determinação da eficácia de cada uma dessas drogas, uma vez que o passo
realmente importante a ser inibido situa-se fora do cérebro. Entretanto, as
observações até o presente sugerem eficácia ligeiramente menor da entacapona.
Por outro lado, o relato de raras complicações hepáticas, após o uso de
tolcapona tornou seu uso menos disseminado e reservado apenas a situações
específicas. Outros efeitos colaterais dessa classe de medicamentos
relacionam-se ao aumento da atividade da dopamina (aumento de discinesias,
alucinações e queda da pressão arterial) de modo que seu uso deve ser sempre
acompanhado de redução da dose de levodopa.
Diarréia tem sido observada em pequena porcentagem de pacientes que utilizam
esses medicamentos e obriga, quase sempre, a sua retirada.
AMANTADINA
Originalmente uma droga antiviral, teve sua ação antiparkinsoniana descoberta
por acaso. Apresenta ação apenas moderada e tem sido ainda hoje bastante
utilizada nas fases iniciais da doença. Seu perfil farmacológico é curioso,
tendo sido considerada durante muitos anos apenas como tendo leve ação
anticolinérgica e dopaminérgica. Atualmente, sabe-se que a amantadina atua
também como antagonista de receptores excitatórios. Tais receptores existem
normalmente em várias regiões do cérebro e respondem a determinados
neurotransmissores excitatórios como o glutamato. Em determinadas situações,
essa transmissão excitatória torna-se exagerada, podendo levar a dano celular
em um processo denominado excitotoxicidade. O uso da amantadina ampliou-se nos
últimos anos como adjuvante nos casos de flutuações motoras importantes e há
quem defenda a possibilidade de que possa atuar como droga neuroprotetora.
Efeitos colaterais da amantadina incluem alterações vasculares periféricas na
forma de manchas cutâneas nas pernas (livedo reticular), inchaço nas pernas,
secura da boca, obstipação intestinal, confusão mental e alucinações.
ANTICOLINÉRGICOS
São substâncias que inibem a ação da acetilcolina. Foram os primeiros
medicamentos utilizados no tratamento da doença de Parkinson. Drogas
anticolinérgicas atuam como antiparkinsonianas ao restabelecer o equilíbrio
entre acetilcolina e dopamina que ocorre na doença de Parkinson. Têm ação
apenas moderada e agem principalmente contra o tremor. Nem sempre são drogas
bem toleradas, principalmente em pacientes idosos. Entretanto, pode ser uma boa
opção em pacientes jovens, nos quais se deseja adiar a introdução da levodopa e
quando o tremor é o sintoma predominante.
As drogas disponíveis em nosso meio, o biperideno e a trihexifenidila são
equivalentes e podem ser toleradas de modo diverso em cada paciente.
Os efeitos colaterais podem ser periféricos e centrais. Os periféricos incluem
boca seca, borramento visual, obstipação intestinal e dificuldade para iniciar
a micção. Os efeitos centrais são mais freqüentes nos idosos e incluem:
sonolência, perda de memória, confusão e alucinações.
Por: Sávio Bastos